Mas quem não gosta de comer? Comer faz-nos sentir bem. Não só nos dá energia para sermos fantásticas, como nos dá prazer. Cada dentada, as diferenças nos sabores, as texturas, os aromas… Comida desperta emoção, conforta, apaixona-nos. Cozinhar é uma arte e comer é experienciar essa arte.
Infelizmente achamos cada vez mais que esse prazer de comer não pode ser sentido. Somos levadas a acreditar que comida que nos fornece prazer, que nos coloca um sorriso na boca e que nos faz revirar os olhos é pecado. Mas não é. A isto chama-se descobrir o fator da satisfação (Princípio 6 de Comer Intuitivamente e muito importante num processo de fazer as pazes com a comida e comer sem culpa).
Prazer de comer
A todas as pessoas que estão numa jornada de se tornarem uma comedora intuitiva (veja aqui que tipo de comedora é) a procura da satisfação com o que se come é muito importante. Assim como realmente compreender se a comida que nos apetece comer (e que antes era proibida, como um bolo de chocolate) é mesmo o que nos apetece comer.
Por exemplo, tive uma cliente que durante anos quase que não comia doces nenhuns nos almoços de família. Quando toda a gente ia embora, ela costumava devorar a sobra quase toda de um bolo caseiro de chocolate que havia sempre nessas celebrações.
Quando começamos a trabalhar juntas ela permitiu-se comer o que quisesse e apercebeu-se que esse bolo nem era assim tão saboroso como achava. Apercebeu-se que haviam sobremesas muito mais saborosas que aquele bolo e as comeu até se sentir satisfeita. Não comeu demais, não ficou mal disposta, teve apetite para o jantar e não atacou nas sobras. Aliás, congelou o extra que não queria e que não conseguiu dar. Interessante, não é?
Compreender o que nos apetece comer e satisfazer esse desejo é muito importante para nos sentirmos fisicamente bem e fazermos as pazes com a nossa comida. Passamos tanto tempo a comer o que nos dizem que devemos comer que deixamos de realmente perceber o que nos sabe realmente bem. Comemos alface em vez de legumes grelhadinhos com azeite e ervas só para depois comermos mais porque a salada não satisfez. E passamos o tempo todo a pensar em comida (e a comer…).
Como redescobrir o prazer de comer?
Este é um exercício que partilho com as minhas clientes e que também me ajudou a perceber o que procuro numa refeição (para além de matar a fome!).
Primeiro que tudo, identifique o que realmente gosta de comer. É normal ter alguma dificuldade em chegar realmente às comidas que gosta de comer pois possivelmente tem comido o que lhe dizem para comer ou copiado o que as outras pessoas comem. Demore o tempo que precisar e deixe essa pergunta na sua cabeça: o que me dá prazer comer? Muitas vezes a resposta chega quando passeamos e sentimos o cheiro de algo! Aponte essas comidas.
Segundo, dê-se permissão para explorar as qualidades sensoriais da comida. Isto significa que, durante as primeiras etapas de redescobrir o prazer de comer (veja aqui todas as etapas) tem de ligar um hiperconsciente até tudo se tornar intuitivo. Quando estiver a comer preste atenção:
- No sabor: saboreie realmente a comida e preste atenção se sabe como realmente estava à espera. É mais doce, tem algum trago de amargo? Experimente essa mesma comida e vê se lhe sabe particularmente diferente em alturas do dia. Pessoalmente, sou mais de doces, mas ADORO pequenos almoços salgados. Ovos ao pequeno almoço com espinafres e pão satisfazem-me muito mais que panquecas ou cereais.
- Na textura: Enquanto saboreia a comida na sua língua, trinque e aperceba-se das texturas que sente. Tem apenas uma textura? Tem várias? É crocante? Esse crocante agrada-lhe ou é agressivo ao seu paladar? E quando as coisas têm uma textura mais resistente e temos de mastigar bastante para as quebrar, isso agrada-lhe ou atrapalha-a? E quando é algo cremoso ou mais líquido, como é a sua reação? Gosta? Por exemplo, fico muito mais satisfeita e saciada a sentir os flocos inteiros da aveia do que apenas comer papas de aveia em pó. Mais saciada fico se juntar amendoins crocantes ou fruta desidratada estaladiça em vez de fruta fresca ou manteiga de amendoim!
- No aroma: Muitas vezes as comida têm um aroma mais forte que o sabor. Tente compreender se esse cheiro vai de encontra à expectativa que tem. Quais os aromas que mais a satisfazem?
- Na aparência: já todas sabemos que a aparência do prato é importante (daí demorar séculos a fotografar comida). É muito mais agradável comer comida bonita do que um prato sem cor. Pensa em frango com batata e couve flor… Sem cor nenhuma, certo? Como pode tornar o seu prato mais bonito para aumentar a sua satisfação?
- Na temperatura: A sopinha quente e confortável sabe muito bem em dias de chuva. O iogurte gelado com fruta fresca sabe tão bem no Verão. Descobre como gosta de comer particular comida. Quando estou de marmita, se tiver oportunidade de a aquecer vou-me sentir muito mais satisfeita do que se a comer fria!
- Volume: algumas comidas são naturalmente mais leves e outras são mais pesadas. Algo como uma salada pode ser o suficiente para ficar satisfeita, mas compreende que vão haver alturas que vai precisar de uma bela massa ou de acrescentar massa à sua salada (sabe particularmente bem no verão). Se algo sabe super bem e tem uma textura perfeita, mas deixa o seu estômago muito cheio, isso vai estragar a experiência de comer. É importante estar conectada com o seu corpo e compreender a sua saciedade (Principio 5 de Comer Intuitivamente) para a refeição ser um momento prazeroso.
Quando identificar o que realmente adora nessa comida, tente replicar esses elementos em várias refeições ao longo do dia. Adora crocância? Acrescente sementes às suas refeições! Adora comida muito temperada?
Descubra as especiarias ideais para si! É o sabor a fumado? Acrescente um pouco de bacon na confeção de certos pratos. Em vez de qualificar certas comidas como ‘boas’ ou ‘más’, redescubra o que realmente lhe dá prazer em cada uma delas e não se prive dessa sensação.
Á medida que se começa reconectar com a sua fome biológica vai saber quando parar de comer porque já está satisfeita (veja este exercício para se começar a reconectar com a sua verdadeira fome).
Este exercício funciona muito bem quando o faz a par com um outro exercício que já partilhei de começar a fazer as pazes com a comida (podes encontrá-lo aqui).
Para conseguir resolver as suas questões com a alimentação de forma guiada, estruturada com um plano de ação comprovado e estruturado, veja aqui como a vou ajudar a comer intuitivamente, a descobrir o prazer em comer e\ou a acabar com a compulsão!
3 respostas
Sou a Rafaela Barbosa, achei seu artigo excelente! Ele
contém um conteúdo extremamente valioso. Parabéns
pelo trabalho incrível! Nota 10.
Muito obrigada!